Dados do Trabalho


Título

RECIDIVA DE RETINITE POR CITOMEGALOVIRUS APOS SUSPENSAO DE TRATAMENTO DE MANUTENÇAO COM GANCICLOVIR: RELATO DE CASO

Introdução

O Citomegalovírus (CMV) é um DNA vírus pertencente a família Herpesviridae que pode desencadear doença ocular grave principalmente em indíviduos imunodeprimidos, como aqueles infectados pelo vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Neste contexto, apesar da terapia antirretroviral (TARV) ter diminuído sua incidência, a retinite por CMV continua sendo importante causa de morbidade ocular, especialmente nos pacientes com contagem de linfócitos T CD4 + <50 células/mm³.
A retinite por CMV possui 3 formas clínicas: típica ou hemorrágica, atípica ou granular e perivascular (frosted branch angiitis),esta última menos comum. Na forma hemorrágica ocorre necrose hemorrágica em lesões retinianas branco-amareladas, que podem estar distribuídas ao redor dos vasos. Na granular as lesões ocorrem mais na periferia da retina, com pouca ou nenhuma necrose e hemorragia. Na forma perivascular as lesões brancas ocorrem ao redor dos vasos retinianos.
Os possíveis sintomas incluem diminuição da acuidade visual, moscas volantes, “luzes piscando” e escotomas. Se não tratada pode levar a perda visual irreversível devido acometimento do polo posterior com necrose retiniana envolvendo a mácula e/ou nervo óptico, ou em decorrência de complicações como o descolamento de retina regmatogênico.
O tratamento adequado é imprescindível para o controle da progressão, prevenção de recidivas e de envolvimento do olho contralateral. Os fármacos mais utilizados são Ganciclovir, Valganciclovir e Foscarnet, devendo a escolha ser individualizada, de acordo com as características da retinite e o estado imunológico do paciente. O tratamento de manutenção deve ser continuado até CD4> 100 células/mm³ em, no mínimo, 2 exames no período de 3 a 6 meses, em uso regular de TARV. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de recidiva de retinite por CMV (forma granular) após suspensão do Ganciclovir e resposta terapêutica com a reintrodução do tratamento.

Métodos

Estudo de caso clínico de um paciente com retinite por Citomegalovírus recidivada. Realizado coleta de dados via prontuário e revisão de literatura em base de dados, por meio de mídia eletrônica.

Resultados

Paciente A.G.M., masculino, 66 anos, HIV positivo e em uso de TARV, mantendo contagem de linfócitos T CD4+ <100 céls/mm³. Retinite por CMV no olho direito em 2022, tratado com Ganciclovir durante 10 meses.
Procurou o ambulatório de Uveíte cerca de 30 dias após parar o Ganciclovir. Ao exame fundoscópico, olho direito com nova lesão em faixa em arcada temporal inferior, brancacenta e com hemorragias entremeadas – aspecto de retinite, discreta vitreíte, área antiga de lesão com aspecto mantido. Olho esquerdo sem lesões de retinite.
Paciente encaminhado ao hospital para reiniciar tratamento com Ganciclovir endovenoso. Após 20 dias comparece a consulta oftalmológica apresentando melhora do aspecto da lesão nova, com diminuição da vitreíte e algumas áreas mais atróficas.
Em conjunto com infectologista manteve-se o tratamento com Ganciclovir até atingir a contagem de linfócitos T CD4 + > 100 céls/mm³ por 6 meses. Última consulta em 12/01/2024, ao exame: olho direito sem visualização da lesão mais próxima da arcada, nem áreas de hemorragia, vitreíte leve, área antiga de lesão de aspecto mantido.

Conclusões

A retinite por CMV no caso relatado ocorreu como recidiva num paciente com contagem de linfócitos T CD4 + < 100 células/mm³, no qual havia sido indicada a suspensão do tratamento de manutenção com Ganciclovir endovenoso devido tempo prolongado e possíveis efeitos colaterais, como a nefrotoxicidade. Este caso clínico evidencia a importância de manter o acompanhamento oftalmológico regular e de possivelmente estender o tratamento até que o paciente apresente resposta imune satisfatória (contagem de CD4> 100 células/mm³), capaz de proteger o organismo contra infecções oportunistas. Após a reintrodução do Ganciclovir o paciente apresentou boa resposta, com resolução das lesões retinianas, sem novas alterações. Mesmo com o surgimento da TARV, a retinite por CMV continua sendo um diagnóstico importante nesse grupo de pacientes, devendo ser elencado dentro as possibilidades diagnósticas e instituído tratamento precoce, devido sua morbidade ocular, com risco de perda irreversível da visão.

Palavras Chave

Retinite; Citomegalovírus; Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); Ganciclovir

Arquivos

Área

ÚVEA

Categoria

RESIDENTE OU FELLOW

Instituições

Instituto Prevent Senior - São Paulo - Brasil

Autores

ANA LUIZA PRIETO FARINASSI, CAMILA MENDES COSTA CAMPELO, JOSENALVA CASSIANO FONTAN, TATYANE CHINASSO, JOSÉ MARIA HONÓRIO DE CARVALHO NETO, LISSA KAORI TAROMARU