Título

MANEJO CIRURGICO DO TRAUMA ABDOMINAL: O QUE MUDOU NOS ULTIMOS 30 ANOS?

Objetivo

Comparar o perfil epidemiológico, indicação cirúrgica e evolução pós-operatória dos pacientes submetidos a laparotomia exploradora por trauma abdominal na mesma instituição, em dois períodos com três décadas de diferença.

Método

Coorte retrospectiva incluindo pacientes submetidos a laparotomia exploradora por trauma contuso ou penetrante em hospital de referência em trauma. Os dados do período de 1991-1992 foram obtidos por meio de publicações prévias na revista científica institucional, e de 2015-2019 por meio de revisão de prontuários. Foram avaliados dados demográficos, mecanismo do trauma, lesões associadas, achados intraoperatórios, complicações pós-operatórias, tempo de internação e desfecho.

Resultados

Entre 1991-1992, foram operados 468 pacientes, em comparação com 506 no período entre 2015-2019. A idade média foi de 27 e 31 anos, respectivamente, com mais de 90% do sexo masculino. O trauma penetrante foi o mecanismo mais comum nos dois períodos, com distribuição semelhante no primeiro grupo, e mais frequente por arma de fogo no segundo. A presença de lesões associadas foi identificada em cerca de 60% das duas amostras. O índice de laparotomias negativas e não terapêuticas foi também semelhante (14 vs. 16%). A taxa de complicações pós-operatórias foi maior no segundo grupo (39.7 vs. 22.1%), sendo as infecciosas e pulmonares as mais comuns nos dois períodos. O tempo médio de internação variou de 7 a 16 dias, respectivamente, e a taxa de mortalidade foi maior no segundo grupo (12.8 vs. 6.1%).

Conclusões

O perfil de atendimento na instituição descrito há 28 anos segue bastante semelhante ao atual, com predomínio de adultos jovens do sexo masculino e trauma penetrante como principal mecanismo. No entanto, destaca-se a proporção bem superior de laparotomias no primeiro período quando comparado aos dados recentes. A redução no número de cirurgias deve-se à maior indicação do tratamento não-operatório, tanto em traumas contusos quanto penetrantes em casos selecionados. As principais diferenças entre os períodos incluem a incidência de complicações, tempo de internação e mortalidade. Supõe-se que as indicações cirúrgicas menos seletivas em ferimentos penetrantes da parede abdominal anterior e em lesões isoladas de vísceras maciças tenham incluído pacientes menos graves no subgrupo submetido ao tratamento operatório. O aumento na proporção de ferimentos por arma de fogo sugere que a adoção do protocolo de exame físico seriado nos ferimentos por arma branca em parede anterior tenha reduzido as indicações de cirurgia nesse grupo de pacientes. A proporção de laparotomias negativas e não-terapêuticas permaneceu relativamente estável, sendo que a utilização de suturas hemostáticas mesmo em lesões sem sangramento ativo pode ter superestimado o índice de laparotomias terapêuticas naquela época. Os dados apresentados refletem as constantes mudanças e melhorias no atendimento ao trauma ao longo dos anos, fornecendo subsídios para o monitoramento dos resultados institucionais.

Palavras Chave

Centros de trauma; Laparotomia; Ferimentos e Lesões;

Área

MISCELÂNEA

Instituições

HOSPITAL DE PRONTO SOCORRO DE PORTO ALEGRE - PORTO ALEGRE - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

MARIANA KUMAIRA FONSECA, LEDWYNG DAVID GONZALEZ PATINO, CARLOS EDUARDO BASTIAN DA CUNHA, NEIVA BALDISSERA, RICARDO BREIGEIRON, JADER GUS