Título

PERITONITE GONOCOCICA EM PACIENTE EM DIALISE PERITONEAL

Introdução

Peritonite é a intercorrência clínica mais frequente em pacientes em programa de diálise peritoneal, sendo predominantemente por estafilococos e estreptococos da pele e gram-negativos entéricos. Apesar de infrequentes, também há relatos de micobactérias e fungos, além de bactérias do trato ginecológico.

Material e Método

Relato de caso de peritonite por Neisseria gonorrhoeae em uma mulher em diálise peritoneal (DP).

Resultados

Feminino, 43 anos, portadora de hipertensão arterial e história de doença hipertensiva da gestação aos 19 anos, teve aos 36 anos diagnóstico de DRC de etiologia hipertensiva confirmada por biópsia renal. Em 2019, iniciou programa de DP. Atualmente em NIPD, tempo total 9 horas, volume total 10L, infusão 2L e última infusão zero; PET baixo transporte, Kt/V semanal de 2,54 (Kt/V renal 1,27 e peritoneal 1,27), diurese residual 2L e ultrafiltração de 300mL. Manteve-se assintomática e sem intercorrências por 17 meses. Em junho de 2021 apresentou dor abdominal e aspecto turvo do líquido peritoneal. Em citologia, descrito líquido branco e turvo, células 10840, hemácias 80, com predomínio de neutrófilos 84%. Iniciado tratamento intraperitoneal (IP) empírico com Ceftazidima 1g e Vancomicina 1g, conforme epidemiologia do serviço. No terceiro dia de tratamento, apresentou melhora de dor e da turvação do líquido. Na cultura de líquido peritoneal, diferenciada N. gonorrhoeae, optado por manutenção de tratamento IP com Ceftriaxona 1g diário em associação com Doxiciclina 200mg/dia via oral para tratamento empírico de clamídia. A paciente não apresentava nenhuma outra queixa se não a dor abdominal e após o resultado da cultura foi realizado interrogatório direcionado para IST, com relato de tratamento recente de corrimento uretral do cônjuge.

Discussão e Conclusões

A causa mais comum de peritonite é a contaminação no momento de troca de fluidos, justificando a alta incidência de patógenos da pele. Outras vias de infecção são translocação de bactérias entéricas e por via hematogênica. Existe ainda, mais raramente, a possibilidade de infecção intraperitoneal por ascensão através dos órgãos pélvicos, condição possivel apenas é possível em mulheres por conta da anatomia. Infecções gonocócicas podem ter apresentações variáveis, desde infecções assintomáticas até gonococcemia disseminada. Nosso caso reforça a necessidade de alerta dos nefrologistas quanto à possibilidade de peritonite secundária a infecções ginecológicas, bem como de encaminhamento à ginecologia a fim de evitar potenciais recorrências.

Palavras Chave

Peritonite gonocócica; diálise peritoneal; IST; Neisseria gonorrhoeae

Área

Doença renal crônica

Instituições

UNIFESP - São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

Barbara Antunes Bruno da Silva, Daniel Ribeiro da Rocha, Paula Massaroni Peçanha Pietrobom, Camila Barbosa Silva Barros, Maíra Docema Oliveira, Jefferson Amâncio Pereira, Juliana Silva Luiz, Claudia Tótoli, Maria Claudia Cruz Andreoli, Adriano Luiz Ammirati, Maria Eugenia Fernandes Canziani