Título

FEBRE CHIKUNGUNYA COMO GATILHO PARA DIFERENTES DISTURBIOS RENAIS

Introdução

O vírus chikungunya (CHIKV) foi detectado no tecido renal post mortem em casos agudos da infecção. Entretanto, ainda não se sabe se os rins são reservatórios para CHIKV a longo prazo, assim como outros tecidos, bem como seus possíveis efeitos na função renal. Este estudo teve como objetivo detectar RNA e antígenos virais em tecido renal e marcadores de lesão renal em pacientes acometidos por febre chikungunya (CHIK) em diferentes fases da infecção.

Material e Método

Trata-se de um estudo exploratório realizado no HC-UFPE, entre 2016 e 2020. Dois grupos foram avaliados: pacientes com lesão renal estabelecida após CHIK comprovada por biópsia e pacientes com manifestações articulares crônicas decorrentes de CHIK sem lesão renal conhecida, para os quais foi realizada uma busca ativa por marcadores de lesão renal. Antígenos virais foram investigados por microscopia eletrônica, imunohistoquímica e PCR em tecido renal

Resultados

No primeiro grupo, 16 pacientes (10 a 59 anos) apresentaram lesão renal entre 0,5 a 24 meses após CHIK, com predomínio de lesões glomerulares. Não foram detectados antígenos virais no tecido renal. Dois pacientes com síndrome hemolítico urêmica atípica e três dos cinco pacientes glomerulosclerose focal e segmentar, incluindo forma colapsante, apresentaram genótipos de risco. Nove (56%) pacientes progrediram para doença renal crônica. No segundo grupo, foram avaliados 114 pacientes (média de idade de 56,2 anos) com manifestações articulares após cerca de 35,6 meses da infecção. A creatinina média e a proteinúria foram 0,9 mg/dl (DP 0,2) e 71,5 mg/dia (DP 37,5), respectivamente. Apenas um paciente apresentou proteinúria moderadamente aumentada e outro paciente apresentou hematúria, sem proteinúria ou disfunção renal. Não houve indicação de biópsia renal nesses casos.

Discussão e Conclusões

Neste estudo exploratório, investigamos os impactos do CHIKV na função renal, demonstrando várias achados histopatológicos em pacientes afetados pela CHIK, porém sem detecção de antígeno ou RNA viral no tecido renal. Um dos pontos fortes deste estudo é que avaliou pacientes em diferentes estágios de infecção, incluindo pacientes com manifestações articulares crônicas. Nossos achados revelam o potencial do CHIKV para desencadear diretamente lesões com diferentes graus de gravidade, provavelmente relacionado à susceptibilidade genética. No entanto, a hipótese de que o CHIKV tem capacidade de replicação de tecido renal a longo prazo nos parece improvável.

Palavras Chave

Vírus chikungunya; Febre chikungunya; Lesão renal aguda; Glomerulopatia; Doença renal crônica

Área

Nefrologia clínica

Instituições

UFPE - Recife - Pernambuco - Brasil

Autores

DENISE MARIA DO NASCIMENTO COSTA, CARLOS EDUARDO EVERTON MACHADO, PRECIL DIEGO MIRANDA DE MENEZES NEVES, DYEGO JOSÉ DE ARAÚJO BRITO, SAMIRA SHIZUKO PARREÃO OI, FLÁVIO HENRIQUE SOARES BARROS, LUIZ TADEU MORAES FIGUEIREDO, STANLEY DE ALMEIDA ARAÚJO, FRANCISCO RASIAH LADCHUMANANANDASIVAM, MARLENE ANTÔNIA DOS REIS, WEVERTON MACHADO LUCHI, JOYCE SANTOS LAGES, NATALINO SALGADO FILHO, LUIZ FERNANDO ONUCHIC, ANGELA LUZIA BRANCO PINTO DUARTE, CLAUDIA DINIZ LOPES MARQUES, MARIA ROSÂNGELA CUNHA DUARTE COÊLHO, CAMILA BARBOSA LYRA DE OLIVEIRA, GISELE VAJGEL FERNANDES, MARIA ALINA GOMES DE MATTOS CAVALCANTE, LUCILA MARIA VALENTE, VERA MAGALHÃES DA SILVEIRA, GYL EANES BARROS SILVA