Dados do Trabalho


Título

ANALISE COMPARATIVA DO SETOR PUBLICO X PRIVADO NO PERFIL DEMOGRAFICO E NO TRATAMENTO DO CANCER DE PULMAO: DADOS DO REGISTRO BRASILEIRO DE CANCER DE PULMAO (RBCP)

Objetivo

Este estudo avaliou a influência que os determinantes sociais da saúde (setor público e privado) tiveram no perfil demográfico, diagnóstico e no tratamento cirúrgico dos pacientes com câncer de pulmão incluídos no Registro Brasileiro de Câncer de Pulmão (RBCP).

Método

Análise retrospectiva de um Registro Nacional multicêntrico e prospectivo de pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico com câncer de pulmão (RBCP) no período de 2019-2023.

Resultados

Foram incluídos 1486 pacientes, dos quais 887 (59,7%) foram atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) e 599 (40,3%) no sistema privado. Em ambos os grupos houve predominância de pacientes do sexo feminino (SUS 491, 55,4%; privado 334, 55,8%; p 0,878). O grupo SUS apresentou mais negros e pardos, 55 (6,2%) e 125 (14,1%) pacientes respectivamente.
No grupo privado teve a maior parcela de pacientes não tabagistas 199 (35,6%), contra 225 (25,7%) (p < 0,001). Não houve diferença entre os grupos quanto às variáveis IMC, diabetes, doenças cardiovasculares, acidente vascular encefálico e doença renal. Todavia, o grupo SUS teve maior prevalência de doença pulmonar obstrutiva crônica (289, 32,6%, p 0,003). Não houve diferença em relação ao índice de comorbidades de Charlson.
Quanto ao diagnóstico, os pacientes do SUS eram mais sintomáticos (37,3%) e apresentaram maior taxa de detecção durante seguimento de outras neoplasias prévias (23,1%). Por outro lado, pacientes do sistema privado foram mais diagnosticados de forma incidental (48,1%) e através de rastreamento (19,1%), assim como possuíam menor tamanho da lesão (2,5 ± 2,4 cm). Dos pacientes SUS, 94,3% (823) foram submetidos a biópsia antes do tratamento, comparado a 74,4% (358) dos pacientes privados (p < 0,001).
Quanto a via de acesso cirúrgico, os pacientes do sistema privado tiveram maior acesso a cirurgia minimamente invasiva, 24,9% (149) foram submetidos a toracotomia, 38,8% (232) a videotoracoscopia (VATS) e 36,6% (217) a cirurgia robótica (RATS). Já entre os pacientes SUS, 50,4% (445) passaram por toracotomia, 43,3% (382) por VATS e apenas 6,3% (56) por RATS.
O tempo de internação foi semelhante entre os dois grupos, com média de 6,7 dias (+/- 6,3 dias) e não houve diferença estatística quanto às complicações pós-operatórias avaliadas: empiema, pneumotórax, fístula aérea > 5 dias, IAM ou arritmias. Houve maior prevalência de óbito operatório (durante a internação ou nos primeiros 30 dias) no grupo SUS (8, 1%, p= 0,0334). Quando avaliada a gestão do serviço de saúde, pacientes provenientes do setor privado apresentaram uma sobrevida de 85% enquanto pacientes tratados no SUS 67,8% (p=0,001).

Conclusões

O perfil demográfico (Idade e sexo) foi semelhante entre os pacientes atendidos no setor público e privado de saúde, assim como a prevalência de comorbidades. No entanto, houve diferença quanto ao método diagnóstico de câncer de pulmão, sendo o rastreamento mais realizado no sistema privado, com detecção precoce, enquanto no SUS tivemos um achado maior em pacientes em seguimento de neoplasia prévia e sintomáticos, o que sugere melhor acesso à saúde em geral no sistema privado. Quanto à técnica cirúrgica empregada, a abordagem minimamente invasiva é mais realizada no setor privado, fato que provavelmente está relacionado à falta de recursos estruturais e tecnológicos disponíveis no setor público de saúde.

Área

Oncologia Torácica

Instituições

FMUSP - São Paulo - Brasil

Autores

ISABELE ALVES CHIRICHELA, JULIANA VIEIRA DE OLIVEIRA SALERNO, PAULA DUARTE DAMBROSIO, LETICIA LEONE LAURICELLA, RICARDO MINGARINI TERRA, PAULO MANUEL PÊGO-FERNADES