Dados do Trabalho


Título

FUNÇAO PULMONAR, CAPACIDADE DE EXERCICIO E QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES SUBMETIDOS A OXIGENAÇAO POR MEMBRANA EXTRACORPOREA (ECMO) POR COVID-19

Objetivo

Parcela significativa dos pacientes com COVID-19 desenvolveram formas graves da doença com síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) grave, necessitando de internação em unidade de terapia intensiva. Alguns destes foram submetidos à oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) ao longo do curso da pandemia (2020-2021). Além das complicações já conhecidas relacionadas aos cuidados intensivos e à ECMO, dados relacionados à função pulmonar e a desfechos de longo-prazo levantam preocupações nesta população, especialmente considerando-se a provável necessidade de internações mais prolongadas com maior uso de bloqueadores neuromusculares. Tal preocupação se torna ainda mais importante em locais com recursos limitados, onde o uso de ECMO requer criteriosa seleção de candidatos. Objetivamos avaliar a função pulmonar, bem como a capacidade de exercício, a presença de sintomas respiratórios e a qualidade de vida relacionada à saúde (HRQL) a longo-prazo em pacientes com COVID-19 submetidos à ECMO em um centro de referência no Rio Grande do Sul.

Método

Sobreviventes da COVID-19 submetidos à ECMO foram comparados com pacientes com SARA grave por COVID-19 pareados por sexo que eram possíveis candidatos à ECMO porém foram tratados com suporte convencional na mesma instituição. Os participantes realizaram testes de função pulmonar, teste de caminhada de seis minutos e responderam a questionários referentes a sintomas respiratórios e HRQL. Variáveis categóricas e contínuas foram comparadas usando o teste χ² e o teste t de Student, respectivamente.

Resultados

25 pacientes com COVID-19 foram submetidos à ECMO na instituição no período avaliado, dos quais 11 sobreviveram até alta hospitalar. Destes, oito pacientes foram incluídos, todos do sexo masculino, com follow-up médio de 403,6 dias após a alta hospitalar. Oito pacientes pareados por sexo que receberam tratamento convencional para SARA grave por COVID-19 foram incluídos como grupo controle. Entre as razões para a não utilização de ECMO no grupo controle estavam o tempo de ventilação mecânica (VM), potencial para otimização de VM e indisponibilidade de membranas. O tempo de internação (74,1 vs. 43,7dias; p<0,05) e de VM (43 vs 19,1dias; p<0,05) foram mais longos em pacientes do grupo ECMO. Não houve diferença com relação à função pulmonar, presença de sintomas respiratórios ou capacidade de exercício. Quanto à qualidade de vida, pacientes do grupo ECMO tiveram pontuações maiores no componente de funções sociais (93,7 vs. 43,7; p<0,05).

Conclusões

Neste estudo, pacientes que foram submetidos à ECMO por SARA grave relacionada à COVID-19 não apresentaram piora de função pulmonar, capacidade de exercício, sintomas respiratórios ou HRQL quando comparados a pacientes que receberam tratamento convencional para a doença. Tais achados sugerem que, apesar de terem internação e VM mais prolongadas, pacientes que receberam ECMO não parecem ter desfechos pulmonares e clínicos relacionados afetados a longo-prazo. Os dados apresentados acrescentam valor significativo à ainda escassa literatura referente a esta terapia de alta complexidade, especialmente em países emergentes onde a ECMO tende a ser subutilizada.

Área

Fronteiras em Cirurgia Torácica

Instituições

Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

GUILHERME MOREIRA HETZEL, GABRIEL DA SILVA VIANA, RAVENA MAYA CARDOSO, IGOR BENEDETTO, MARCELO B. GAZZANA, DIEGO C. MONDADORI, MAURICIO G. SAUERESSIG, DANILO C. BERTON