Título

IMPLANTAÇAO E ESTRUTURAÇAO DO PROGRAMA DE TELEMEDICINA PARA PACIENTES DO SUS COM DOENÇAS DA TRAQUEIA. RESULTADOS DOS PRIMEIROS 2 ANOS.

Objetivo

Demonstrar a implantação e estruturação de um programa de telemedicina voltado para pacientes do sistema único de saúde (SUS) com doenças da traqueia e via aérea central. Analisar seus resultados nos dois primeiros anos de atendimento.

Método

Análise retrospectiva de dados coletados em prontuário eletrônico. Foram incluídos pacientes do sistema único de saúde com doenças da traqueia e via aérea central (com ou sem dispositivo traqueal) atendidos no setor de Telemedicina do Instituto do Coração de São Paulo de agosto 2020 a agosto 2022. O atendimento foi realizado por residentes do primeiro e segundo ano de cirurgia torácica, supervisionados por médicos assistentes do grupo de Cirurgia da Traqueia e Vias Aéreas do Hospital das Clínicas de São Paulo, conforme uma sistematização padronizada pelo grupo. As consultas ocorreram em um ambiente com infraestrutura para o atendimento online, com computador equipado de duas telas, fone de ouvido e câmera, realizada em plataforma própria da instituição e registrado em prontuário eletrônico.

Resultados

Num total de 1152 consultas realizadas por telemedicina no período, 518 pacientes de ambos os sexos (236F/282M) com idade 31,8±22,6 anos (0-95) foram incluídos no estudo. Os diagnósticos mais frequentes foram a estenose traqueal pós-intubação (76.1%), paralisia de prega vocal (5.2%) e a fístula traqueo-esofágica, estenose idiopática de traqueia e distúrbios neurológicos em pacientes com traqueostomia (2.7%). Dentre os pacientes atendidos, 55.9% portavam dispositivo traqueal (129 tubos T; 127 traqueostomias; 33 endopróteses), 17% possuíam restrição de mobilidade e/ou alteração cognitiva e 5% utilização oxigênio domiciliar. Foram atendidos pacientes de 22 estados brasileiros. Na macrorregião de São Paulo (DDD 11), foram atendidos pacientes de 41 municípios diferentes e outras 8 macrorregiões do estado foram contempladas (São Jose dos Campos, Santos, Bauru, Sorocaba, Ribeirão Preto, São Jose do Rio Preto, Presidente Prudente e Campinas). Das 1152 teleconsultas, 705 (61%) eram de pacientes moradores da grande São Paulo, sendo 412 da cidade de São Paulo e 293 de outros municípios; 198 (17%) das teleconsultas de outras macrorregiões do estado e 249 (22%) de outros estados brasileiros. O cálculo de quilômetros percorridos economizados considerando-se ida e volta do endereço da residência do paciente até o Prédio dos Ambulatórios do Hospital das Clínicas de São Paulo foi de 2.423.403,96 km, o que corresponde a uma redução da emissão de dióxido de carbono no meio ambiente de 94.073,41 toneladas, e uma economia em transporte para os municípios de origem de 629.053,56 reais.

Conclusões

O atendimento por telemedicina de pacientes portadores de doenças da traqueia e via aérea central, com ou sem dispositivo traqueal, é factível e seguro, desde que realizado de forma sistematizada e com infraestrutura adequada. A economia de gastos com transporte e a possibilidade de difusão da assistência especializada pelo território brasileiro nessa população torna a telemedicina uma ferramenta fundamental na prática médica atual.