Dados do Trabalho


Título

DISPARIDADES RACIAIS V NA MORBIMORTALIDADE CIRURGICA E SOBREVIDA DE UMA POPULAÇAO COM CANCER DE PULMAO EM ESTAGIO INICIAL TRATADA NO SUS.

Objetivo

Estudos internacionais demonstram que pacientes negros com câncer de pulmão diagnosticados em estágios iniciais - para os quais a ressecção cirúrgica oferece uma cura potencial - experimentam uma sobrevida global pior do que pacientes brancos. No Brasil, faltam dados a respeito desse tema. De acordo com dados do IBGE de 2021, 43,0% dos brasileiros se declararam como brancos, 47,0% como pardos e 9,1% como pretos. Realizamos um estudo de base populacional para estimar a disparidade racial na morbimortalidade cirúrgica e sobrevida global entre pacientes com câncer de pulmão em estágio inicial.

Método

A população do estudo foi derivada do Registro Brasileiro de Câncer de Pulmão, uma base multicêntrica que coleta dados de pacientes operados para neoplasia primária de pulmão com intuito curativo. A raça foi categorizada em branca (grupo 1 - G1) ou negra (grupo 2- G2), a primeira resultante da agregação das categorias branca e asiática e a segunda resultante da agregação das categorias preta e parda.
Os desfechos primários foram “tempo entre diagnóstico e cirurgia”, “mortalidade perioperatória (até 30 dias)” e “complicações cardiopulmonares maiores”. O desfecho secundário foi sobrevida global. Para análise ajustada do impacto da raça na mortalidade perioperatória, construímos modelos de regressão logística incluindo as variáveis idade, sexo, raça, charlson, ECOG e tipo de ressecção pulmonar. Análise de sobrevida foi feita com curva Kaplan-Meier e log-rank. Regressão de riscos proporcionais de Cox foi realizada para avaliar impacto das variáveis raça, idade, sexo, e TNM na sobrevida global. Consideramos significativas as diferenças com p<0,05.

Resultados

De um total de 2344 casos incluídos no RBCP, 1149 (48,6%) foram operados no SUS, 11 foram excluídos por ausência de informação sobre raça e 122 por dados incompletos sobre comorbidades, investigação da doença e sobrevida, restando 1011 para análise. Oitocentos pacientes (79,21%) pertenciam ao G1 e 210 (20.79%) ao G2. A idade média foi maior no G1 (G1: 63.8 +- 11.7 x G2: 61.1+- 13,3 anos; p=0,003). A análise das características basais mostra que não houve diferença entre os grupos para as variáveis sexo, ASA, ECOG, tabagismo, presença de outra neoplasia prévia, TNM patológico, subtipo de câncer de pulmão, tipo de ressecção pulmonar, acesso cirúrgico. No entanto o G2 apresentou menor pontuação no índice de comorbidades de Charlson (G1: 4.95+-1,74 x G2:4.58+-1,62, p=0,005). Não houve diferença no tempo entre diagnóstico e cirurgia (G1: 237 dias x G2: 256 dias, p=0,06) e na mortalidade operatória entre os grupos (G1: 5,09% x G3: 4,85%; p=0,880). Também não houve diferença na frequência das principais complicações cardiopulmonares.
Não houve associação entre raça e mortalidade operatória (OR=1,06; IC95% 0,52 – 2,15, p= 0,88) ou sobrevida global (HR=0,76; IC95% 0,54-1,07; P=0,129).

Conclusões

Na população estudada não houve influência da raça na mortalidade perioperatória, complicações cirúrgicas e sobrevida global. Porém chama atenção a desproporção entre as duas populações na amostra, bastante diferente da distribuição populacional, o que pode refletir uma dificuldade de acesso da população negra ao SUS.

Área

Oncologia Torácica

Instituições

ACCAMARGO - São Paulo - Brasil, FAMERP - São Paulo - Brasil, FMUSP - São Paulo - Brasil, USP RIBEIRAO - São Paulo - Brasil

Autores

LETICIA LEONE LAURICELLA, RICARDO MINGARINI TERRA, ISABELE CHIRICHELE, ISAAC DE FARIAS SOARES ROGRUIGUES, FEDERICO CIPRIANO, LI SIYUAN, JEFFERSON GROSS, PAULO PEGO-FERNANDES