Dados do Trabalho


Título

GLOMERULOPATIA COLAPSANTE IDIOPATICA ASSOCIA-SE A GENOTIPOS DE ALTO RISCO DE APOL1 OU VARIANTES MENDELIANAS NA MAIORIA DOS INDIVIDUOS AFETADOS EM UMA POPULAÇAO ALTAMENTE MISCIGENADA

Introdução

A Glomerulopatia colapsante (GC) é uma podocitopatia comumente associada a rápida progressão para doença renal crônica com necessidade de terapia renal substitutiva (DRC-TRS). Sua incidência é aparentemente maior no Brasil que em outros países, porém a razão dessa ocorrência é desconhecida.

Material e Método

Neste estudo realizamos uma análise integrada de dados clínicos, histológicos, terapêuticos, genéticos causativos e de ancestralidade genética em uma coorte altamente miscigenada contendo 70 pacientes com GC idiopática (GCI), incluindo crianças e adultos. As análises genéticas incluíram painel genético dirigido a glomerulopatias ou sequenciamento de exoma completo, e um arranjo de polimorfismos de nucleotídeo de alta densidade para avaliação de ancestralidade.

Resultados

O diagnóstico da doença ocorreu aos 23 (17-31) anos e cerca de metade dos pacientes evoluiu para DRC-TRS 36 meses após o diagnóstico. Bases genéticas causativas foram identificadas em 58,6% dos pacientes. Entre estes casos, 80,5% albergavam genótipos de alto risco de APOL1 (GAR) e 19,5% variantes mendelianas causativas (MV). Pacientes autodeclarados não brancos apresentaram GAR com maior frequência e o grupo GAR teve uma frequência mais alta de história familiar de doença renal. Albergar VM foi um fator de risco independente para progressão para DRC-TRS aos 36 meses (HR: 2,583, 95%CI 1,151-7,076, p=0,024) e ao final do seguimento (HR: 2,355, 95%CI 1,018-5,447, p=0,045). Maiores idades à biópsia renal e remissão foram fatores protetores independentes contra progressão para DRC-TRS aos 36 meses (HR: 0,961, 95%CI 0,927-0,996, p=0,029; e HR: 0,230, 95%CI 0,085-0,623, p=0,004, respectivamente) e remissão também o foi ao final do seguimento (HR: 0,155, 95%CI 0,069-0,351, p<0.001). Todos os pacientes com GAR manifestaram GC entre 9 e 44 anos de idade, enquanto naqueles com genótipo de baixo risco de APOL1 a doença manifestou-se ao longo da vida. Pacientes com GAR apresentaram maior proporção de ancestralidade genética africana. Identificamos novas VMs causativas nos genes COL4A5, COQ2 e PLCE1, além de VMs causativas previamente descritas em MYH9, TRPC6, COQ2, COL4A3 e TTC21B. Três pacientes apresentaram GAR associado a variante de significado incerto nos genes ITGB4, LAMA5 ou PTPRO. VMs se associaram a pior prognóstico renal.

Discussão e Conclusões

Nossos dados revelam que o status genético desempenha um papel capital na patogênese da GCI, responsabilizando-se por mais da metade dos casos em uma população brasileira altamente miscigenada.

Palavras Chave

Glomerulopatia Colapsante, APOL1, Genética, Next-Generation Sequencing

Área

Doenças do glomérulo

Instituições

Universidade de São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

PRECIL DIEGO MIRANDA MENEZES NEVES, ANDRÉIA WATANABE, ELIESER HITOSHI WATANABE, AMANDA MORAES NARCIZO, KELLY NUNES, ANTÔNIO MARCONDES LERÁRIO, FREDERICO MORAES FERREIRA, LÍVIA BARREIRA CAVALCANTE, JANEWIT WONGBOONSIN, DENISE MARIA AVANCINI COSTA MALHEIROS, LECTÍCIA BARBOSA JORGE, MATTHEW SAMPSOM, IRENE LOURDES NORONHA, LUIZ FERNANDO ONUCHIC