Dados do Trabalho


Título

NEFROPATIA MEMBRANOSA PRIMARIA OU SECUNDARIA?

Relato do Caso

A Nefropatia Membranosa (NM) é uma das causas mais frequentes de síndrome nefrótica em adultos. Em 80% dos casos não está relacionada a nenhuma condição subjacente, sendo denominada de NM primária ou idiopática. A diferenciação entre NM primária e secundária pode ser desafiadora. Vários avanços foram realizados nas últimas décadas em relação ao entendimento da fisiopatologia da doença, principalmente com a descoberta de autoanticorpos direcionados contra antígenos podocitários. O primeiro antígeno reconhecido foi o Receptor de Fosfolipase A2 do Tipo M (PLA2R). O PLA2R é considerado o principal antígeno na NM primária, sendo identificado em mais de 70% dos casos e frequentemente ausente nas formas secundárias da doença.
Relatamos aqui o caso de uma paciente de 75 anos admitida para investigação de síndrome nefrótica (Relação proteína/creatinina 7,71 g/g) associada a síndrome consuptiva. A mesma evoluiu com necessidade de hemodiálise e, durante internamento, foi realizado diagnóstico de adenocarcinoma de cólon. Em razão do quadro nefrótico e da consequente injúria renal, foi submetida à biópsia renal. Não foram observadas alterações na microscopia óptica e não houve material para análise da imunofluorescência.
Paciente foi submetida a colectomia parcial e, em razão das condições clínicas, não foram realizadas quimio ou radioterapia. Após alguns meses apresentou recuperação da função renal, não necessitando mais de diálise. Foi realizada nova colonoscopia, que não mostrou nova lesão maligna.
Como paciente mantinha proteinúria nefrótica mesmo após ressecção da neoplasia, optou-se por realizar nova biópsia renal. Desta vez, o padrão observado foi de nefropatia membranosa porém, surpreendentemente, houve positividade para anti-PLA2R na imuno-histoquímica tecidual, favorecendo o diagnóstico de NM primária.
Após a realização da segunda biópsia, paciente evoluiu com remissão espontânea da proteinúria. No momento permanece em acompanhamento ambulatorial, com doença renal crônica estádio 3/4 e proteinúria inferior a 1 grama/24 horas. Mantém também acompanhamento com Oncologia, sem sinais de recidiva tumoral até o presente momento.
Portanto, apesar da associação com neoplasia, o diagnóstico final foi nefropatia membranosa, com remissão espontânea. Diagnóstico esse que só foi possível graças à técnica de imuno-histoquímica, uma vez que ainda não disponibilizamos de dosagem sérica de anti-PLA2R.

Palavras Chave

síndrome nefrótica; nefropatia membranosa; anti-PLA2R

Área

Doenças do glomérulo

Instituições

Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná - Paraná - Brasil, Universidade Federal do Maranhão - Maranhão - Brasil

Autores

SAYURI KUHNEN HAYASHI, SERGIO OSSAMU IOSHII, GYL EANES BARROS SILVA, RODRIGO HAGEMANN